FGV: DESIGUALDADE NO MERCADO DE TRABALHO BATE RECORDE DURANTE A PANDEMIA

ROSANA HESSEL

A pandemia de covid-19 está fazendo um estrago sem precedentes no mercado de trabalho. Apesar de o auxílio emergencial de R$ 600 ter melhorado a renda dos mais pobres e vulneráveis, principalmente nos estados do Norte e do Nordeste do país, o mercado de trabalho está encolhendo e o rendimento dos trabalhadores cai em patamares nunca antes vistos na história.

Dados de pesquisa “Efeitos da pandemia sobre mercado de trabalho brasileiro: Desigualdade, ingredientes trabalhistas e papel da jornada”, divulgada nesta quinta-feira (10/09) pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, FGV Social, revelam que o Índice Gini — indicador que mede a desigualdade da renda — aumentou 2,2% durante a pandemia, pelos cálculos do estudo, passando de 0,792, no último trimestre de 2019, para 0,824, no segundo trimestre de 2020. Na métrica do indicador, quanto mais perto de 1,0 maior é a desigualdade.

“Esse aumento do Índice Gini é gigantesco e nunca foi registrado na métrica de variação do indicador”, destacou Marcelo Neri, diretor do FGV Social e coordenador do estudo, em entrevista ao Blog. “Um salto desse na desigualdade nunca houve aumento tão parecido na série histórica em termos de renda do trabalho”, pontuou. Na série apontada pela FGV, o patamar é o mais elevado desde 2012 e o aumento entre o segundo trimestre de 2019 e o mesmo intervalo de 2020, a alta foi de 3,87%, dado três vezes maior do que qualquer outro ponto da série.

O levantamento da FGV tem como base os dados da PNAD Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, de acordo com Neri, o quadro só não é mais grave devido à redução da jornada de trabalho proporcionada pela Medida Provisória 936, que ajudou a evitar um grande número de demissões no país, de acordo com Neri. No segundo trimestre de 2020, durante o auge da pandemia, a queda na renda foi de 20,1% e ela teve como principal impulsionador a redução da jornada de trabalho, de 14,3%. “Se essa medida de redução da jornada, que foi prorrogada, perder a validade, ela poderá se transformar em desemprego, e, com isso, o aumento da desigualdade será maior ainda”, alertou.

Céu e inferno

Neri lembrou que o auxílio emergencial ajudou a melhorar a renda média de todos os trabalhos, incluindo assistência social, durante a pandemia, tirando 13,1 milhões de pessoas das faixas D e E, conforme mostrou uma pesquisa anterior do FGV Social. “Em relação à pesquisa passada sobre classes, esta faz um contraponto, uma espécie de paradoxo, porque mostra o mercado de trabalho no inferno, tanto na renda quanto na desigualdade”, destacou.

De acordo com os dados do estudo, os 50% mais pobres ainda foram mais afetados, pois tiveram queda na renda do trabalho em 27,9%. Já os 10% mais ricos perderam menos do que a média: 17,5%. As minorias também estão entre os maiores prejudicados durante a pandemia no mercado de trabalho. A renda média dos indígenas, caiu 28,7%; a dos sem instrução recuou 27,5% e a dos jovens até 24 anos, encolheu 26%. Ao comparar a queda da renda média entre os estados brasileiros, Pernambuco lidera a lista de aumento da desigualdade, com queda de 26,9%. Já o Distrito Federal apresenta redução média de 19,3%.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/…/fgv-desigualdade…/

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