RIQUEZA GLOBAL DAS FAMÍLIAS CRESCE 1,5% NO SEMESTRE, MESMO COM PANDEMIA, DIZ ALLIANZ

Movimento no segundo trimestre, como efeito dos estímulos injetados nas economias de vários países pelos bancos centrais e governos
Por Sérgio Tauhata
A riqueza global das famílias cresceu 1,5% no primeiro semestre de 2020 na comparação com o fim do ano passado, mesmo em meio à mais profunda recessão mundial em 100 anos, provocada pela pandemia de coronavírus. O resultado faz parte de uma pesquisa sobre patrimônio privado feita pelo grupo segurador alemão Allianz, baseada em dados de 60 países.
O relatório indica que o crescimento do patrimônio das famílias se concentrou no segundo trimestre, como efeito dos estímulos injetados nas economias de vários países pelos bancos centrais e governos. Segundo a Allianz, “o disparo de ‘bazucas’ monetárias e fiscais protegeu as famílias e seus ativos financeiros”.
Segundo a pesquisa, os depósitos bancários, alimentados pelos programas de apoio público e poupanças preventivas, aumentaram 7%. “Por enquanto, a política monetária salvou o dia”, diz o economista-chefe da Allianz, Ludovic Subran. “No entanto, não devemos nos enganar. Taxas de juros zero e negativas são um doce veneno, que minam o acúmulo de riqueza e agravam a desigualdade social, pois os proprietários de ativos podem embolsar lucros inesperados.”
Crescimento em 2019
O crescimento da riqueza global em 2019 foi o maior desde 2005, com elevação de 9,7% dos ativos financeiros brutos frente ao montante de 2018. A Allianz credita o forte impulso à flexibilização monetária promovida pelos BCs.
“Na medida em que os bancos centrais inverteram o curso e embarcaram em uma flexibilização monetária de base ampla, os mercados de ações desvincularam-se dos fundamentos e dispararam 25%, elevando outros ativos financeiros no processo: a classe de ativos de títulos negociáveis aumentou incríveis 13,7% em 2019”, apontou a seguradora.
Seguros e previdência também tiveram fortes avanços de 8,1% em 2019. Já os depósitos bancários aumentaram 6,4% no período.
“Todas as classes de ativos registraram um crescimento no ano passado significativamente acima de suas médias de longo prazo desde a crise de 2008”, aponta o relatório.
O estudo também mostra que, pela primeira vez em 11 anos, o número de membros da classe de riqueza média global caiu significativamente, de pouco mais de 1 bilhão de pessoas, em 2018, para menos de 800 milhões, em 2019.
O mundo continua sendo um lugar muito desigual. Os 10% mais ricos em todo o mundo, ou seja, as 52 milhões de pessoas com ativos financeiros líquidos médios de 240 mil euros, reúnem 84% do total de ativos financeiros líquidos em 2019. O 1% de famílias mais ricas — com ativos financeiros líquidos médios acima de 1,2 milhão de euros — concentra quase 44%.
No Brasil, os ativos financeiros brutos das famílias cresceram 10,9% em 2019, abaixo da média de dez anos, de 15,4%. O passivo cresceu 11,9%, um ponto percentual acima da média de dez anos.
Já os ativos financeiros líquidos das famílias brasileiras cresceram 10,5%, ligeiramente menos do que em 2018, de 11,6%.
Segundo a pesquisa, os investidores brasileiros têm abandonado os instrumentos seguros de investimento, como poupança, capitalização e imóveis, e aumentaram sua exposição em títulos negociáveis, como ações, renda fixa e fundos. Em 2019, a sua participação em títulos negociáveis no total de ativos financeiros era de 54%, contra 33% em 2000. “Em tempos como estes, é cada vez mais importante apoiar a educação financeira e a inclusão”, diz Arne Holzhausen, coautor do relatório.

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