FALSA ESCOLHA ENTRE SAÚDE E ECONOMIA É UM DOS TEMAS DO LIVRO DA ECONOMISTA MONICA DE BOLLE

Em Ruptura, autora aborda debate sobre propostas para enfrentar crise sanitária e econômica

Cássia Almeida

“Ruptura” é o nome do livro que mostra a mudança radical na forma de pensar economia e suas soluções e na própria direção profissional de uma economista que tem participado ativamente do debate sobre propostas para enfrentar a crise sanitária e econômica que o mundo vive.

Os remédios, as políticas, os entendimentos, tudo isso mudou com a pandemia, na opinião de Monica de Bolle, que lança seu segundo livro pela Intrínseca, nesta sexta-feira, numa live no site da editora, juntamente com o médico Drauzio Varella, às 17hs.

O encontro já indica a mistura de medicina com economia, tema do próximo livro sobre a pandemia que vai ser lançado entre fevereiro e março do ano que vem. Monica é professora da Universidade Johns Hopkins e pesquisadora sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional:

— Esse não é um livro sobre economia. É sobre uma ruptura e da interdisciplinaridade da economia.

O livro traz, de maneira bem didática, as discussões que se deram no início da pandemia, já em março, sobre a falso escolha entre saúde e economia. Os dados mais recentes mostram que os países que fizeram quarentenas mais rigorosas conseguiram sair mais rapidamente da crise econômica. Os quase 140 mil mortos no Brasil indicam que não houve distanciamento social que diminuísse o número de óbitos.

Ela afirma que o debate econômico está velho e polarizado, o que está tornando a discussão no Brasil “inútil”, exatamente no momento mais adequado para se repensar como se aborda os problemas econômicos no Brasil:

— Mas isso não vai acontecer porque a profissão no Brasil está extremamente ideologizada e já estava assim há algum tempo, só que piorou. Os economistas que se autointitulam heterodoxos se associam à esquerda e acham que tudo é possível, sem restrições, ainda tem isso no Brasil, reconheço que nem todos são assim. Do outro lado temos os economistas, vamos chamá-los de ortodoxos, que ficaram velhos, parados no tempo.

Ela cita o exemplo do teto de gastos — regra que impede o crescimento das despesas públicas acima da inflação. Qualquer debate sobre modificar a regra fiscal é polarizado, diz Monica.

No livro, Monica defende investimento público para ajudar na retomada e diz que o caminho sempre passa por aí. Na Europa, a discussão está nesse caminho e até nos Estados Unidos, afirma:

—A discussão global está aí. A discussão no Brasil fica presa, porque o pensamento é assim: “ah, vai ter corrupção, não vai usado de forma adequada” e acaba o debate.

Impacto da pandemia no mercado de trabalho

Ela defende também um programa para atender aos trabalhadores nesses novos tempos, destacando que mesmo quando houver uma vacina disponível, ela não imunizará 100% e ainda não se sabe quanto tempo duraria essa proteção.

— A epidemia vai continuar entre nós. Vamos conviver com essa situação a perder de vista, de forma atenuada é claro. Muitos empregos serão extintos, as relações de trabalho vão todas mudar e muita gente vai ficar obsoleta, principalmente no Brasil. Vão se somar a esse exército enorme de trabalhadores que não têm segurança no trabalho.

Por isso, ela defende programa complementar ao Bolsa Família, de renda básica, que caiba dentro da nossa realidade, como uma espécie de seguro.

— Não dá para ter um precipício depois de dezembro (quando está previsto o fim do auxílio emergencial). Não vai dar para acabar em dezembro. Imagina o tamanho do choque, não só para as pessoas, mas para a economia. Inevitavelmente, alguma coisa vão acabar fazendo: ou outra prorrogação ou a implantação de outro programa.

Diz que não há risco de o Brasil quebrar, mesmo com o aumento da dívida pública que está acima de 90% do Produto Interno Bruto (PIB). Alega que a dívida está em moeda local, e que não há risco de calote, muito menos de avanço da inflação, mesmo com a alta dos alimentos.

— O que impulsiona a inflação é salário e quando vai ter salário subindo no Brasil de verdade?

Monica diz que o livro reúne reflexões nesses tempos tumultuados, com o objetivo de repensar os moldes em que a economia trabalha, que não podem ser “uma caixinha fechada”, têm de ter uma interconexão com outras disciplinas. O livro mostra uma ruptura em muitos níveis:

— Ruptura no que a pandemia representa, de como a economia é tratada e uma ruptura minha com a própria disciplina.

https://oglobo.globo.com/…/falsa-escolha-entre-saude-econom…

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